A mosca Azul

Havia em um reino um administrador muito severo.

Era respeitado e temido por amigos e adversários.

Quando tinha de realizar julgamentos, seu lema era: aos amigos a lei, aos inimigos o rigor da lei, mas acima de tudo e sempre a lei.

Toda vez que acontecia de um dos súditos do rei - que tivesse recebido alguma posição de responsabilidade - não mais cumprir com seus deveres ou de se constatar que houvesse praticado algum desvio, o administrador o chamava e o demitia sumariamente de seu posto.

No demitido era estatuído o exemplo da severidade a ser temido por todos: sua culpa era publicamente exposta e com isto perdia seu ganho, seu prestigio e a possibilidade de  colocar-se a serviço de outrem no reino.

Com isso o demitido e toda a sua familia estão expostos à vergonha.

Por causa disto, o demitido e toda a sua família ficavam com muita raiva do administrador, não mais o podiam ver em lugar algum e sempre procuravam motivos para falar de sua severidade como malvadeza, como insensibilidade.

Quando calhava do rei, em visita a seus súditos, passar por alguma aldeia onde alguém já tivesse sido demitido, sempre acontecia de passar por um certo constrangimento, pois toda a família daquele que havia sido demitido atribuía as ações do administrador como se fosse do rei mesmo.

Mesmo sabendo que as demissões haviam sido justas, ao rei não mais agradava ter de passar por este constrangimento sempre que fosse a uma aldeia onde já tivesse ocorrido um caso de demissão.

Não mais satisfeito com esta situação, ele chamou o administrador e lhe ordenou:

"Toda vez que tiver de ocorrer uma demissão, eu mesmo a farei".

Dali em diante, toda vez que um súdito tivesse de ser demitido de um cargo de responsabilidade, o administrador relatava o caso ao rei e este chamava o respectivo súdito para comunicar pessoalmente sua demissão do posto.

Depois de uma longa conversa, o súdito saia dali cheio de alegria.

Contava a todos sobre as qualidades administrativas que o rei lhe havia reconhecido, sobre o fato de não mais ser adequado ao reino um administrador com tais qualidades e sobre os planos de partir imediatamente para a cidade mágica, onde estas qualidades poderiam finalmente ser postas totalmente em ação.

E poucos dias após a demissão, o demitido partia com alegria em busca da cidade mágica.

O administrador, intrigado com o método do rei, perguntou-lhe:

- O que Sua Majestade faz para que todos os que perdem o posto saiam com grande alegria, partindo imediatamente para a cidade mágica?

- Nada - disse o rei -, apenas deixo que eles sejam picados pela mosca azul.
  • Situações e contextos oportunos para a utilização desta história
    • A importância de apontar perspectivas para as pessoas, mesmo em situações adversas.
    • Não ter perspectiva é pior que ter alguma, mesmo que frágil.
    • Há modos e modos de lidar com o desligamento de uma pessoa, na empresa.
    • Apontar perspectivas em situações adversas é uma arte.
    • Deve-se fazer uma distinção entre apontar perspectivas e criar ilusões.
  • Sugestões de questionamentos ou reflexões
    • Como ocorrem os desligamentos das pessoas da empresa?
    • É possível criar mecanismos que fomentem perspectivas para pessoas, mesmo em situações adversas?
    • Qual a diferença entre apontar perspectivas e criar ilusões?
    • Não há o perigo de que um mecanismo de apontar perspectivas apenas crie ilusões?